FANFIC - ROBSTEN IS UNBROKEN - CAPÍTULO 1

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Capítulo 1

Jules havia acabado de contar para a filha que flagara Robert na companhia de outra mulher em Londres. Em silêncio, as duas espiavam o pátio externo através das portas envidraçadas. Em seguida, Kristen perguntou em tom frio: 

- Como "ela" está? 

- Bonita como sempre. - Jules revelou com um suspiro. - O que você pretende fazer? 

- O que pretendo fazer? - repetiu Kristen, virando-se novamente para encarar a mãe. - Já lhe avisei que está falando com a pessoa errada a respeito desse assunto. 

- Ah, Kris... - os sinais de dor e frustração se aprofundaram na expressão de Jules enquanto assistia a filha voltar para a mesa. - Como você e Rob acabaram nessa situação? 

- É o que acontece com milhares de casais por aí. - Kristen ironizou. 

- Isso é tolice! - Jules rebateu. - Vocês se amam! Robert ficou louco por você desde o primeiro momento em que a viu. Essa é a principal razão pela qual "ela" desistiu dele. Assim que percebeu o que estava acontecendo entre vocês dois, deixou o caminho livre. 

Sim, Kristen concordou em pensamento. A amiga, atualmente ex, realmente se afastara e deixara o caminho livre. 

- Vocês pareciam tão felizes! Rob a devorava com os olhos e parecia não se importar com quem estivesse olhando. - prosseguia Jules. 

Kristen esboçou um sorriso amargo diante daquela observação. Amargo porque, de certa forma, a mãe estava certa. Robert realmente a devorava com os olhos. E não somente com os olhos, mas também com os lábios, com a língua, com... No entanto, tudo aquilo acontecera até pouco tempo atrás. Antes do fatídico episódio com a revista US Weekly. 

"Será que tudo não passara de um engano durante esses anos todos? Será que confundimos a ficção com a realidade, e deixamos Bella e Edward invadirem nossas vidas?" - Kristen pensou. 

Isto poderia ser possível. Eles encarnaram tão bem os personagens, o fizeram de maneira tão convincente que poderiam muito bem acreditar que estavam apaixonados. E o ingrediente especial que tornara aquilo possível tinha um nome: Sexo. 

Naquela época, ambos ficaram tão fascinados com a descoberta de uma química entre eles que os respectivos relacionamentos que ambos tinham com outra pessoa não sobreviveram. Tempos depois começaram a sair juntos. O despertar dos instintos primitivos os cegaram a ponto de nem se importarem em saber o que realmente sentiam um pelo outro. E agora a cegueira em que Kristen se encontrava desabara de uma só vez ao perceber um sentimento de desespero que começava a crescer dentro dela. Estivera cega o suficiente para acreditar que se tratava de amor? 

"Amor..." - Ela sentia vontade de rir só de pensar naquela palavra. 

"Simplesmente Rob aproveitara o que lhe era oferecido. Qualquer homem no seu lugar faria a mesma coisa." - Concluiu Kristen. 

Bem, Kristen poderia o ter recusado se quisesse. Porém, levada por um instinto inesperado e avassalador, ela se entregara aos apelos contidos nos olhos expressivos do então colega de elenco e permitira que o relacionamento entre eles avançasse os limites das filmagens e entrasse em um território perigoso. Até que a recente atitude de Rob a forçara a enxergar o grande engano que cometera. O eco dos pensamentos atingia em cheio o seu coração angustiado e vazio. 

Enquanto Kristen divagava nos pensamentos, Jules pressentiu a amargura da filha e gentilmente estendeu um braço sobre a mesa para alcançar uma das mãos dela e confortá-la com um afago. 

- Eu sei que tem passado por maus momentos, minha filha. Deus sabe que todos nós sofremos com a sua perda. Acredite em mim... 

Kristen espiou para as mãos que se tocavam sobre a mesa e desejou que sua mãe apenas parasse de falar. 

- Seu pai ainda se culpa pelo que aconteceu. 

- A culpa não é dele e nem de ninguém. - afirmou Kristen. - Você disse isso para ele? 

- Claro que eu disse. Centenas de vezes. E quanto a você? Fez o mesmo com Rob? 

Subitamente, Kristen teve vontade de sair correndo, de novo. 

- O que é isso? Um interrogatório? 

- Não fique brava, minha filha. Só estou preocupada com vocês. - implorou Jules, enquanto Kristen livrava a mão para poder se levantar da mesa. 

Jules se levantou também e, usando um tom piedoso na voz, continuou: 

- Já faz três meses que você perdeu o bebê e antes disso, você e Rob eram inseparáveis. O que aconteceu para você querer afastar todos de sua vida? Principalmente o homem que ama? 

"Três meses, duas semanas e vinte horas precisamente." - Pensou Kristen. 

Diante do silêncio da filha, Jules decidiu continuar: 

- Eu entendo que você precise de tempo para se recuperar da perda, mas, depois de tudo o que lhe contei, não acha que é hora de superar a tragédia e salvar o seu relacionamento? 

Como resposta, Kristen deu meia-volta e saiu apressada da sala. Odiava tudo, todos e desprezava a si mesma. Não queria pensar sobre o bebê que perdera nem em Rob. Sentia o corpo dolorido e o coração despedaçado. Enquanto cruzava o hall, captou, de relance, a própria imagem refletida no espelho grande que ornamentava uma das paredes e ficou espantada com o que viu. A pele naturalmente clara agora estava pálida como uma vela. Os olhos estavam circulados por anéis escuros e os lábios contraídos a ponto de exibir apenas uma linha fina. 

"Não, não irei chorar outra vez!" - Exclamou furiosamente para si mesma. 

- Não deve menosprezar seu namorado dessa maneira, Kristen. - a mãe persistiu, falando em voz alta. - "Ela" o quer de volta, e você precisa impedir isso! 

Estancando em frente a escada que dava acesso aos quartos e girando o corpo para a direção da mãe, Kristen disse: 

- Não vou desmaiar se pronunciar o nome dela. 

- As vezes, acho difícil acreditar que você é minha filha! Será que não herdou um pouco do meu sangue? - Jules enfureceu o olhar. - Nikki. Nikki Reed é o nome dela e sei que não vai desmaiar por isso. O que importa é que a sua amiga namorava o Rob muito antes de você entrar em cena. E, pelo que eu pude perceber, ela está querendo reconquistá-lo enquanto você fica aqui, como se não se importasse que eles estão tornando público o envolvimento entre eles. - Jules disse, num tom bastante severo. 

Depois que se casara, Nikki fora morar em Nova York. Porém, já fazia algum tempo que ela estava separada de seu marido. Mas ainda assim continuava em Nova York. Ela e Paul haviam brigado. Todos sabiam, isso não era um segredo. Mas o mistério era em torno do motivo. Ninguém sabia. Ninguém? Talvez Robert fosse um dos poucos a conhecer. Naquele momento, um pensamento tomou a mente de Kristen, fazendo-a sentir uma leve pontada de dor na cabeça. 

"Seria Rob o pivô da briga entre Nikki e Paul?" - Kristen pensou. 

- Porra! O que quer que eu faça? - Kristen esbravejou, aproximando-se novamente da mãe. Os olhos verdes demonstraram a primeira manifestação de emoção desde que a discussão se iniciou. - Será que devo entrar no primeiro avião para Londres e testemunhar com meus próprios olhos o que acabou de me contar? E depois? Diga-me, "mama". Como acha que devo agir? Devo levar um punhal para cravar no peito deles e lavar a honra, como se fosse num filme? 

- Ah, agora vai usar de uma fantasia só para me atingir? - Jules devolveu. - E, já que me perguntou, eu respondo que "sim". Provocar uma "cena" será mais saudável do que se comportar como se não estivesse dando a mínima para o que está acontecendo. 

- Quer saber? Eu quero que os dois se fodam lá na terra da Rainha. Que fiquem por lá. - Kristen virou em direção a escada e subiu os degraus correndo, trancando-se em seu quarto. 

Jules ficou olhando a filha subir a escada. Soltou um suspiro longo e balançou a cabeça, demosntrando um certo descontentamento com a postura da filha. Em seguida, fora embora para sua casa, ciente de que tinha feito a coisa certa em alertá-la. Kristen precisava acordar. 

(...) 

“Talvez eu não dê a mínima”. - Pensou Kristen, no momento em que estava sozinha em seu quarto. 

Não sabia dizer se importava-se com o que Robert pudesse estar fazendo ou não. E esse era o maior problema. Não saber como se sentia a respeito de qualquer coisa. 

Kristen suspirou ao lembrar-se do que a mãe lhe dissera mais cedo: 

“- Suponho que fará um esforço para sair de casa e comparecer ao casamento de Kellan e Ashley, marcado para esta noite. 

- Claro que estarei lá. Por que eu deixaria de abraçar meus amigos no dia mais importante de suas vidas? 

- Não sei. - Jules ironizou. - Do jeito que as coisas estão caminhando, não vai demorar muito tempo para que se torne uma eremita. 

- Almocei com Tom Sturridge duas vezes. E eremitas não fazem isso. 

- Humm... - Jules murmurou sem se impresionar.” 

Kristen tornou a se concentrar no momento e analisou a própria situação. Parecia que estava só no mundo e vivenciando um vazio sem fim. Olhou ao redor do quarto que costumava compartilhar com o namorado e que, agora, parecia ainda maior sem a presença dele. A única coisa diferente era o vestido preto de noite, que ela deixara sobre a cama e que pretendia usar no casamento dos seus amigos. 

Talvez a mãe tivesse razão em algumas coisas que lhe dissera... 

O ruído de um carro subindo a rampa de acesso à casa interrompeu-lhe os devaneios. Ela aproximou-se da janela e reconheceu o automóvel. 

Era Robert! 

Sentiu o coração dar um salto e uma sensação de medo invadi-la. 

Ainda faltavam muitos dias para que ele retornasse de Londres. O que teria acontecido para que Robert estivesse em casa mais cedo do que planejava? Será que ele vira Jules no restaurante? E até mesmo a viu seguindo-o? 

Ela observou o carro percorrer as curvas do pátio ajardinado e depois estacionar na entrada principal da mansão. 

Antes que Dean, o guarda-costas, que também exercia a função de motorista, saísse do carro, Robert desceu do veículo. 

Os raios do sol, que se punha, iluminaram a silhueta do homem alto e elegante. E, no momento em que ele ergueu o rosto para contemplar a casa, a beleza das feições másculas se tornou mais evidente. 

Definitivamente, Robert era o homem mais bonito e charmoso que Kristen conhecera em toda a sua vida. Uma verdadeira obra-prima da natureza. Tudo nele era encantador: o modo como se vestia, falava ou sorria, principalmente os olhos azuis expressivos e a boca extremamente sensual. Ela odiou-se por não conseguir afastar os olhos da figura encantadora do namorado. 

Ele era um homem assustadoramente inteligente, perspicaz e sedutor. O tipo de pessoa que veio do nada e conseguiu o sucesso derrubando barreiras e construindo uma fama considerável. 

“Ali está ele.” - Pensou Kristen, ao vê-lo falar com Dean. - “O homem que defende sua fama com toda a determinação. Dificilmente alguém poderá notar que, por trás da fachada de bom rapaz que ele ostenta, existe um indivíduo que coloca a carreira e o sucesso acima de tudo.” 

E porque Kristen achava isso tudo? 

Ela havia ouvido dos próprios lábios dele, em uma das muitas noites em que permaneciam abraçados, após fazerem amor, e confidenciavam segredos, esperanças e medos, na penumbra do quarto. Tudo parecia tão certo e tão bem compartilhado. De corpo a corpo e de alma para alma. E foi naquela mesma noite que Kristen percebeu o grande engano de acreditar que ele a amava. 

Quando divulgaram as fotos manipuladas para acusá-la de traição, Kristen se manteve isolada em sua casa. Deprimida, cancelou reuniões e viagens, rescindiu alguns contratos e ... esqueceu-se de suas obrigações contraceptivas. Quase um mês depois, Kristen descobrira que estava grávida. A alegria estava de volta. Havia vida dentro dela, literalmente!Imaginou que um filho naquele momento seria o elo perfeito para a consolidação daquele relacionamento. Quanto engano! O que aconteceu, na verdade, foi o início do afastamento entre eles. 

Quando Kristen contou para Robert que estava grávida, ele dissera-lhe que o momento não era oportuno para terem um filho. Dissera-lhe também, que ela não poderia ter se descuidado, pois estavam no auge de suas carreiras. Tinham novos projetos pela frente, inúmeras viagens a fazer e que agora, devido a situação em que ela se encontrava, a via desistindo do filme “Cali”, onde além de atuar, seria também a produtora executiva. 

Aquelas palavras a magoaram profundamente. Principalmente a maneira como ele se referiu à gravidez, chamando-a de “situação”. E o momento que ela imaginava ser de felicidade, mudara para decepção. Para, dias depois, transformar-se em dor com a perda do bebê. 

Para Kristen, ficara claro que a notícia o deixara insatisfeito. Ela jamais o perdoaria por criar um abismo tão grande e de maneira tão rude. A partir de então, Robert quase não se comunicava com ela. O romance passou a representar apenas uma fachada. 

Mas o que Kristen não conseguia entender, era por que ele ainda continuava ali. Não havia nada que o prendesse. Nem mesmo o fruto daquele “suposto” amor existia agora. Portanto, ele não precisava dela, aliás, nunca precisou. Porque então, manter a farsa? 

O som de uma risada a tirou dos pensamentos. Kristen baixou o olhar para a entrada da casa e notou que Robert despedia-se com um aceno do guarda-costas e ria de algo que ele lhe dissera. Em seguida o viu brincar com Bear, antes de entrar. 

Há quanto tempo ela não o via sorrir daquele jeito... Será que a ex-amiga seria a responsável por trazer-lhe a alegria de volta? Será que estariam dormindo juntos? 

E se isso estivesse acontecendo... Kristen se importaria? 

Ela se afastou da janela e caminhou em círculos pelo quarto. Os braços estavam cruzados frente ao peito para acalmar a tensão. Não. Ela não estava preparada para responder àquela questão nem para encarar Robert. 

Oh, Deus! Por que ele teria de estar de volta justamente naquele dia? 

(...) 

No instante em que Robert Pattinson entrou pela porta principal da mansão, os traços suaves e alegres da risada que compartilhara com Dean simplesmente desapareceram e foram substiuídos por uma expressão severa e fria. 

Parou, por um momento, para analisar a perfeita decoração da casa e a escada em caracol que conduzia ao andar superior. 

O silêncio era frio como o gelo. 

"Meu lar..." - Pensou com ironia. 

Tinha alguns funcionários para manter a mansão impecável e atraente. No entanto, se não fosse pelo barulho de Dean manobrando o carro na garagem, Robert poderia jurar que estava sozinho no mundo. 

Antes de subir e encarar a namorada, suspirou profundo para aliviar a tensão e fechou os olhos com um pensamento: 

"Namorada..." 

Deveria haver outra palavra para referir-se à imagem fantasmagórica que substituíra a pessoa amável que enchia de alegria aquela casa e sua vida. 

Robert sabia que ela estava no quarto. Ele a vira na janela, no momento em que descera do carro. Até mesmo daquela distância podia perceber a indiferença nos olhos verdes que os observavam. 

- Boa Tarde. - cumprimentou a governanta. 

"Até que enfim uma voz humana!" - Robert exclamou em pensamento enquanto abria os olhos para a mulher de cabelo grisalho à sua frente. 

- Boa tarde, Louise. - ele respondeu, achando graça no próprio sotaque inglês que usara para se entender com a governanta. 

Contudo, aquilo não era novidade. Ali era um pequeno pedaço da Inglaterra no meio de Los Angeles. Ele e Kristen haviam decorado a mansão nos padrões ingleses. Até a fiel governanta era Londrina. 

Robert e Kristen haviam comprado aquela mansão em conjunto. Teria sido um erro? 

- Anotei vários recados telefônicos para o senhor. - a voz da governanta interrompeu-lhe os pensamentos. - Eu os colcoquei sobre a sua mesa no escritório. E um deles é de... uma moça. E parece ser urgente... 

Ignorando a hesitação da mulher, Robert apenas consentiu com um gesto de cabeça e se encaminhou para a escadaria. Urgente ou não, ele precisava primeiro ver Kristen. 

Conhecendo os costumes da casa, a senhora Louise se retirou do hall, da mesma maneira silenciosa como entrara, assim que viu o patrão subir a escada. 

Ele estacou por um breve instante antes de girar a maçaneta da porta e entrar sem nenhhum aviso. Robert considerava ridículo ter que anunciar sua presença no quarto que ainda lhe pertencia, embora eles não o compartilhasse há algumas semanas. 

Assim que fechou a porta, observou Kristen acomodada à penteadeira e calmamente lixando as unhas. Vestia um robe de seda na cor lilás e o cabelo estava preso no alto da cabeça. O rosto parecia mais pálido do que o normal. 

Notando a presença dele, Kristen virou a cabeça para encará-lo, e Robert deparou-se com o verde congelado nos olhos da namorada. 

- Oi. - murmurou ele, tentando manter um tom agradável na voz, embora satisfação fosse a última coisa que poderia dizer que estava sentindo. 

- Olá. - devolveu ela sem a mínima emoção. - Não esperava que estivesse de volta hoje. 

Robert cerrou os dentes para conter a irritação. Em seguida, cruzou o quarto na direção de um frigobar. Mesmo ele não estando muito na casa, a governanta mantinha sempre a pequena geladeira abastecida. Um hábito desde quando os dois costumavam ficar a maior parte do tempo dentro do quarto. Ela persistia no costume, embora soubesse que a situação entre o casal estivesse estremecida. 

Robert pegou uma cerveja, em seguida olhou para Kristen e ofereceu: 

- Quer uma? 

Ela apenas sacudiu a cabeça, negando. 

Robert respirou fundo. Parecia que estava falando com um morto. Tomou um grande gole da cerveja e seguiu para próximo da janela com a garrafa em uma das mãos. Com o olhar fixo na paisagem através do vidro, tomou outro gole para acalmar os nervos. Era a hora do crepúsculo e ele adorava contemplar aquela mistura de cores no horizonte. 

Enquanto apreciava a vista, Robert esperava por uma reação de Kristen. Não daria mais do que dois minutos para que ela arrumasse uma desculpa qualquer e abandonasse o quarto. Só que, dessa vez, ele tinha a intenção de impedi-la. Ainda que fosse preciso usar de força para fazê-la sair daquele mundo sombrio e encarar a realidade. 

Kristen aguardava, impaciente, pelo momento oportuno de ergue-se e sair dali. Porém precisava esperar que Robert terminasse de beber a cerveja. Era como um ritual. Uma maneira de tentar ocultar dos empregados a verdade sobre atual situação do relacionamento deles. Como se isso fosse possível! 

Nas poucas vezes que Robert vinha para casa, ele ia direto para o quarto e permanecia o tempo suficiente para saborear sua bebida preferida. Após alguns minutos, ela arranjava uma desculpa e abandonava o quarto. 

Mas, naquele dia, havia algo de diferente. Naquele dia, ele trazia nos lábios o rastro do beijo de outra mulher. Ficava difícil cumprir o ritual passivamente. Porém só havia duas alternativas: ou falava com ele sobre o assunto ou se calava e abandonava o quarto. Kristen não sabia o que seria pior. 

Robert foi o primeiro a quebrar o silêncio: 

- Precisamos conversar. 

Ela levantou-se precipitadamente. 

- Sinto muito. Preciso tomar um banho. 

- Mais tarde fará isso. - afirmou ele com o cenho franzido. - O que tenho a dizer é muito importante. 

- Meu banho também é importante. Estou atrasada para um compromisso. Deveria ter-me avisado da sua chegada. 

- Já sei que irá comparecer ao casamento de Kellan e Ashley. 

Kristen suspirou. E Robert prosseguiu: 

- Foi por isso que retornei mais cedo do que deveria. Há algo que quero lhe falar antes de... - Robert hesitou, parecendo tentar encontrar as palavras certas sobre o que queria dizer. 

- Está bem. Estou ouvindo. - ela respondeu impaciente, cruzando os braços na frente do peito. 

Robert ainda estava junto da janela, as feições encobertas pela sombra da noite que se aproximava. Contudo, ela podia notar a tensão no maxilar contraído do namorado. Percebia a frustração. Talvez o reflexo de alguma culpa na consciência. 

Por fim, ainda hesitante, ele se moveu na direção do frigobar e repousou a garrafa sobre ele. Depois começou a caminhar na direção dela, até estacar a poucos centímetros do corpo feminino. 

Kristen agora podia observar com clareza os traços bonitos do rosto do namorado. A colônia que ele usava a entorpeceu, e ela precisou fechar os olhos para controlar a emoção. 

- Não me toque! - ela avisou em tom de sussurro. 

- Então não me provoque. - respondeu ele com a voz enrouquecida. - Olhe para mim! Não podemos continuar vivendo dessa maneira! 

Ela abriu os olhos de repente, e as palavras saíram de sua boca sem que planejasse. Sem que pudesse evitá-las. 

- Está pensando em separação? - o som alto e distorcido da própria voz a assustou. 

"Será que ele pretendia assumir o relacionamento com Nikki? E isso realmente me importa?" - Os pensamentos confusos atordoaram-lhe a mente. 

“Diga logo o que você já sabe e acabe logo com isso!” - Kristen ouvia sua voz interior pedir. 

Entretanto, a única coisa que Kristen fez foi partir os lábios trêmulos pelo medo. Robert inclinou a cabeça e suavemente roçou os lábios dela. O gesto foi rápido, mas o suficiente para confundi-la. 

Num primeiro momento, ela pensou em afastá-lo. Depois, em manter-se imóvel. E, por fim, desejou sentir o calor daqueles lábios em outras partes do corpo que acreditava não mais responderem a qualquer estímulo. Talvez fosse uma reação provocada pela surpresa, ela tentou justificar para si mesma. Não esperava aquela atitude do namorado. Afinal, eles não se beijavam há três meses. Após a perda do bebê, Robert nunca mais a tocara, a não ser na frente de estranhos, quando o dever social de manter as aparências se fazia necessário. E era por essa mesma razão que Kristen evitava acompanhá-lo e decidira se isolar na mansão. 

Ele tornou a roçar-lhe os lábios, e ela estremeceu ao perceber que começava a corresponder ao beijo. Porém Robert ergueu a cabeça e estudou-lhe o rosto por alguns segundos. 

- Vá tomar seu banho. Nós não devemos chegar atrasados. - disse Robert. 

Após aquelas palavras, ele se afastou para terminar o restante da cerveja. 

Kristen se sentiu como um brinquedo descartado. Será que a intenção dele era humilhá-la? 

- Nós? Está dizendo que pretende me acompanhar? - Kristen perguntou intrigada. 

- Por que não? Por acaso não fui convidado? - ele notou as mãos trêmulas dela e sorriu interiormente. 

- Mas não quero que vá comigo! 

- Tenho certeza de que nossos amigos ficarão muito felizes com minha presença. 

- Acredito que sim. Mas, e se você ainda estivesse viajando? 

- Eu irei com você e está decidido. Aproveite para relaxar e se acostumar com a ideia enquanto toma seu banho. 

O tom calmo e determinado na voz de Robert a fez desisitir do combate. Ele ouviu o suspiro conformado de Kristen, antes dela bater a porta do banheiro com força. Sorriu satisfeito. Fazia muito tempo que a namorada não tinha atitudes tão emotivas. Talvez a tática do beijo não tivesse sido tão ruim... 

(...) 

Kristen saiu do banheiro e entrou no quarto, passando com indiferença pelo vestido preto que ainda permanecia sobre a cama, e seguiu na direção da gaveta onde guardava as lingeries. 

A cor preta não era a sua favorita, porém selecionara aquele vestido especialmente para impressionar e tentar mostrar às pessoas que estava bem. Mas esse efeito não surtiu em Robert, pelo menos foi o que ela percebeu ao notar que ele sequer olhara em direção à cama. 

"Será que Robert e Nikki estariam assim tão envolvidos?" - Só de pensar, ela sentiu um frio na barriga. - "Talvez eles ainda se amam..." 

Ela acabara de passar quase uma hora no banho imaginando a razão pela qual não dissera a ele o que já sabia. Talvez porque não estivesse pronta para encarar a verdade. 

E quanto ao beijo carinhoso que ele lhe dera pouco antes? 

"Ah, não! Não entre nesse terreno perigoso!" - Pedia-lhe a voz interior. 

Kristen começava a sentir emoções novamente... Algumas muralhas que construíra ao seu redor ainda estavam firmes, mas outras começavam a desabar. 

Terminou de se arrumar e mirou-se no espelho. E o que viu era exatamente o que esperava: estava linda! A maquiagem encobria a palidez do rosto, e o vestido em estilo clássico acentuaria perfeitamente as curvas do corpo pequeno e delicado. 

Ela deu um suspiro e determinou a si mesma que teria coragem suficiente para enfrentar a situação da maneira que fosse preciso. Kristen saiu do quarto. Ela podia ouvir a voz do namorado no escritório enquanto descia a escada. 

A porta estava aberta e, quando ela espiou pelo vão, ficou espantada com a elegância de Robert, que prosseguia falando ao celular. Quando ele a viu, interrompeu a conversa que mantinha, e ambos trocaram um olhar desconfiado, como dois adversários tentando ler o pensamento do outro. 

Kristen foi a primeira a desviar o olhar, e Robert retornou a atenção para a ligação. 

Enquanto descia os degraus com cuidado, ela notou que a senhora Louise já a aguardava na porta da frente. Mantinha um casaco cuidadosamente dobrado em um braço e um largo sorriso nos lábios. 

- Está muito frio lá fora? - Kristen quis saber, assim que se aproximou da governanta. 

- É o preço que temos que pagar pelo dia agradável de outono que tivemos hoje. - sorrindo, a governanta respondeu. 

E quando estava a ponto de ajudar Kristen a vestir o agasalho, Robert a interrompeu: 

- Deixe que eu faça isso. 

A obediente empregada concordou com um discreto gesto de cabeça e entregou o casaco para o patrão. Em seguida, dirigiu-se à porta para abrí-la para eles. 

- Linda, como sempre! - Robert sussurrou, admirando-a, e passou a ajudá-la com o casaco. 

Kristen nada respondeu. Apenas fixou os olhos nos dele, enquanto ele ajeitava o cabelo dela por cima da gola do casaco. 

- Obrigada. - ela murmurou. 

- O prazer foi meu. - respondeu ele e, com um dedo, ergueu-lhe o queixo. 

Os olhares se cruzaram. Ela percebeu um brilho no olhar dele, revelando que Robert pretendia beijá-la outra vez, e ela sabia que não resistiria. Pensou em pedir que ele não fizesse isso, mas desisitu ao ver que Loiuse os estava observando, e Robert ficaria muito zangado se ela o rejeitasse na frente de outros. 

Continua...