FANFIC - NEVER SAY NEVER - CAPÍTULO 3

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Capítulo 3

– O quê?

Sua cara espantada me fez imediatamente querer engolir de volta o que eu tinha dito e horrorizada eu tapei a boca com a mão.

Eu devia mesmo estar muito bêbada pra ter dito aquilo. Mas, infelizmente, não tão bêbada para não me importar. Agora eu queria que um buraco se abrisse aos meus pés e eu caísse dentro. E não tivesse que ficar olhando para a expressão aturdida de Edward Cullen na minha frente.

Ele com certeza começaria a rir a qualquer momento.

De repente alguém bateu na porta atrás de mim e eu quase dei um pulo me afastando quando a abriram.

–Ei, consegui uma camisa emprestada pra você. - Vagamente eu reconheci o cara alto de cabelos pretos segurando uma camisa na mão como um dos Cullens.

Será que ele toparia transar comigo se eu pedisse? Sim, porque pela expressão de Edward, com certeza ele não tinha gostado muito da minha proposta. Ou entendido. Que seja. 

Oh deus, eu estava mesmo enlouquecendo.

O Cullen de cabelos pretos olhou pra mim, surpreso e curioso.

–Oh, quem é esta aqui?

Mas antes que Edward respondesse algo do tipo “é uma louca que acha que eu teria algum interesse em transar com ela”, balbuciei alguma desculpa e passei por ele, saindo do banheiro.

A música alta e a fumaça de cigarro me atingiram e eu me senti mais tonta ainda.

E envergonhada. 

E humilhada.

E, droga, precisava sair dali o mais rápido possível, mas onde se metera Jéssica?

Percorri os corredores e salas lotadas e não a vi em lugar nenhum. Minha cabeça ainda girava e comecei a me sentir enjoada. Me sentei num sofá e alguém passou uma garrafa para minha mão.

Não devia beber mais, mas eu já estava bêbada mesmo. E minha boca estava  seca. Então levei a garrafa à boca. Aquilo parecia cerveja. Não era tão ruim. 

Eu só precisava me manter ocupada até Jéssica aparecer. 

Algumas garrafas daquela depois, as pessoas a minha volta passavam como um borrão. E eu comecei a sentir um zunido no ouvido.

Encostei a cabeça e fechei os olhos, mas o mundo não parava de girar. 

–Você está bem?

Abri os olhos e lá estava ele.

Edward Cullen.

E vestia uma camisa.

–Que pena. – murmurei.

–Que pena o quê?

Eu ri, fazendo um gesto com a mão pra ele esquecer.

–Nada. – por que minha língua estava tão pesada?

–Não parece bem. – ele sentou ao meu lado.

–Eu estou bêbada.

–Metade da festa está.

–Mas você não.

–Não.

–Claro que não. – o perfeito Edward devia ser um daqueles caras que eram sofisticados demais para ficar bêbado.

Será que ele ia falar sobre o que eu disse no banheiro?

Talvez eu devesse falar. Nunca era tarde para consertar um mal entendido.

De alguma maneira eu não queria que Edward Cullen achasse eu que fosse louca.

–Olha, sobre aquilo no banheiro...esquece, ok? Eu não devia ter dito aquilo. Mas é que... você estava lá, sem camisa, e... eu só vim nesta festa porque eu precisava achar um cara e acabar logo com um probleminha aí... – falei, enrolando a língua. Edward parecia estar prestando atenção. Era fácil agora. Falar. – Para fazer sexo comigo. - completei. E não parecia tão absurdo agora. Era ótimo poder desabafar. – Por que é tão difícil? Deve ser por isto que eu ainda sou virgem! Aposto que ninguém nesta maldita festa é virgem! Não devia ser um problema, mas eu não posso voltar sem ter resolvido isto. Que inferno, dois anos e eu não fui capaz de achar um cara legal? Mas agora eu cansei. Ele não precisa ser legal. Eu não preciso nem conhecer ele na verdade, até que é melhor. Apenas sexo. Sem compromisso. Achei que fosse isto que os caras quisessem, não é? - eu parei de falar e o encarei. - Você não acha que devia ser mais fácil? Talvez eu devesse tomar coragem e levantar daqui e fazer o que tenho que fazer.

Alguém passou por mim, com mais bebidas e eu peguei uma.

–Eu acho que não devia beber mais... - ele disse e tirou o copo da minha mão e devolveu.

Ele tinha dedos bonitos, reparei. Longos.

–É, tem razão, eu não me sinto bem mesmo... - eu o encarei e me surpreendi no quanto ele estava perto. Tudo girava agora. Dentro e fora de mim – Oh, droga - murmurei.

E a última coisa que eu me lembro era de estar vomitando.

Na camisa de Edward Cullen.

Minha cabeça ia explodir.

Isto se eu conseguisse abrir os olhos. Eu já tentara algumas vezes, mas a luz difusa da manhã era como raios que iam direto no meu cérebro.

Eu ia morrer.

Gemendo, eu me forcei abrir as pálpebras, ignorando a dor nas têmporas e me sentei. Este simples ato já foi um tremendo esforço.

O que diabos tinha acontecido pra estar assim? 

Então eu me lembrei. A festa com Jéssica. Mas eu não tinha visto Jéssica depois que entramos na casa. E eu bebera. Muito. 

E derrubara bebida em Edward Cullen.

Eu escondi o rosto com as mãos ao me lembrar do diálogo no banheiro.

E o pior não era isto. Não contente em perguntar se ele queria transar comigo, eu ainda despejara toda aquela conversa sobre virgindade e sexo sem compromisso em cima dele depois.

E claro, a última coisa que eu me lembrava era de estar vomitando em cima dele.

Eu gemi mais alto. Como é que eu podia ser tão idiota? 

Nunca devia ter ido naquela festa. Nunca devia ter bebido, e o mais importante: nunca deveria nem sequer ter olhado para Edward Cullen. Ou para seu peito sem camisa.

Me deitei de novo, escondendo o rosto no travesseiro. Era humilhação demais para uma noite só. 

Nunca mais eu ia poder olhar para a cara de Edward Cullen novamente.

Mas eu não precisava, não é? Não éramos amigos. Não tínhamos nenhuma aula juntos.
Com certeza ele nem se lembraria de mim.

Ou eu esperava que não. Afinal, ser uma garota absolutamente comum devia servir pra alguma coisa.

Suspirando, saí da cama, ignorando a dor de cabeça e a tontura e estaquei.

Como é que eu tinha chegado no meu quarto? E como é que eu estava vestindo apenas calcinha e sutiã? Meu estômago deu uma volta ao imaginar Edward tendo algo a ver com isto, mas logo descartei a ideia. Claro que ele não se daria ao trabalho. Provavelmente sobrara para Jéssica me trazer pra casa. Eu teria que pedir desculpas para ela, por estragar sua noite.

Me arrastei até o banheiro e tomei um banho.

Talvez eu devesse voltar para a cama. E dormir até o fim do mundo. Ou até esquecer o quão humilhada eu me sentia.

Mas hoje eu tinha aulas importantes, e não ia poder ficar trancada no quarto pelo resto do semestre.

Então me vesti e coloquei uma blusa com capuz. Apenas para o caso de precisar me camuflar caso visse alguém conhecido. Mais precisamente alguém com cabelos cor de areia.

Peguei meus livros e saí. A manhã ainda estava cinzenta, mesmo assim a pouca luz irritou meus olhos, e, soltando uma imprecação, eu caminhei pelo campus. Quando cheguei no prédio principal e entrei na sala, respirei aliviada ao ver que não estava atrasada, embora a sala já estivesse cheia.

Me sentei, colocando os livros sobre a mesa e alguém parou na minha frente.

–Olá.

A voz cantada e feminina era desconhecida e eu levantei o olhar para me deparar com uma das irmãs de Edward. Ela tinha cabelos curtos e escuros e um sorriso no rosto.

Oh Deus, por que diabos ela estava falando comigo? Tentei me lembrar de tê-la conhecido ontem.

–Oh, acho que não me apresentei, meu nome é Alice Cullen – ela sorriu ainda mais – queria saber se está se sentindo melhor.

Oh. Oh.

Então era isto. Provavelmente ela tinha visto meu vexame.

Ou será que Edward contara? E se ela viu, quem mais fora testemunha?

Eu olhei em volta preocupada e de repente a impressão que eu tinha era de que todos olhavam pra mim.

Meu rosto começou a queimar.

–É, eu... sim, estou – murmurei, baixando o olhar.

–Que bom. Não parecia nada bem ontem...

–É, olha, me desculpa, mas preciso sair... - falei, juntando meus livros de qualquer jeito e me levantando.

–Mas a aula já vai começar...

–Esqueci um livro na biblioteca. – menti e saí quase correndo da sala, ignorando os olhares curiosos

Só parei quando cheguei no outro corredor e encostei na parede, respirando fundo.

Será que nunca mais eu ia esquecer a vergonha?

E o pior de tudo é que eu ainda me sentia super mal, com a cabeça doendo e o estômago revirando.

Nunca mais eu ia beber na vida, decidi.

Pessoas como eu deviam ser proibidas de chegar perto de qualquer bebida alcoólica.

E agora, o que eu faria? Voltar para a aula estava fora de cogitação. Ainda mais com a irmã saltitante e curiosa de Edward por lá.

Voltar ao quarto e me esconder parecia uma opção bem razoável agora.

Mas em vez disto, eu fiz o que falei para Alice Cullen que faria. Fui para a biblioteca.

Pelo menos lá eu poderia me esconder e aproveitar para estudar. Assim não perderia totalmente a manhã.

Para meu alívio a biblioteca estava vazia àquela hora e escolhi uma mesa afastada e me sentei e tentei fazer um relatório sobre Orgulho e Preconceito. O que deveria ser muito fácil para mim, já que era meu livro preferido, mas em vez disto, eu me vi a toda hora voltando à noite anterior.

Eu tinha mesmo pedido para um cara transar comigo? Eu sentia meu rosto esquentar de vergonha só de relembrar.

E o que se passara pela minha mente alcoolizada para achar que havia alguma chance remota de Edward Cullen querer transar comigo? Justo ele que nunca nem saía com ninguém do campus? Ia aceitar uma proposta da mais comum das criaturas?

Eu devia estar louca. E não só por causa de Edward. Talvez toda aquela historia de sexo sem compromisso fosse absurda. 

Mas então eu ia voltar para Forks e dormir com Jacob? Mordi os lábios, rabiscando desenhos sem sentido na folha à minha frente.

Eu estava bem perdida. 

Voltei à realidade quando ouvi a porta se abrindo e fechando. Respirando fundo, soltei o lápis e me levantei. Melhor ir pegar o livro, já que hoje estava sem inspiração.

Caminhei por entre as estantes e fiquei na ponta dos pés para tentar alcançar a prateleira de cima onde estava o livro, e então uma mão se materializou na minha frente, o pegando para mim.

Eu abaixei o olhar e lá estava Edward Cullen, segurando meu livro preferido de Jane Austen.

–Oi Bella.

Eu me esqueci de como se respirava.

Ah não. Eu não podia ser tão azarada.

Tudo o que eu não precisava neste momento, aliás, em nenhum momento no futuro, era me deparar com Edward Cullen na minha frente.

Mas lá estava ele. Com seu cabelo cor de areia perfeito. Seus olhos dourados. E seus dedos longos segurando Orgulho e Preconceito.

E eu podia sentir meu rosto ir esquentando conforme eu ia me lembrando de novo da humilhação da noite anterior.

De repente, o simples ato de olhar para ele era muito humilhante e eu desviei o rosto para algum ponto no chão, pegando o livro de suas mãos.

Pronto. Agora era só eu agradecer e me afastar de volta para meus estudos.

–Obrigada. – murmurei e me virei.

Mas, se eu desconfiava que o fato de encontrar Edward na biblioteca não era apenas uma obra do acaso, isto se confirmou quando eu senti sua presença atrás de mim.

Oh Deus, o que eu fizera pra merecer aquilo?

Me sentei, abrindo o livro em qualquer página, o ignorando.

Mas hoje não era meu dia de sorte. Esta palavra nem existia na minha vida ultimamente.

–Espero que esteja se sentindo melhor. – ele disse, se sentando na minha frente.

Eu peguei o lápis.

–Sim, estou – e eu o encarei. - e se foi só isto que veio perguntar, já pode ir, eu preciso estudar. – falei decidida voltando à atenção ao livro.

–Não parece nada bem.

Eu mordi os lábios com força e o encarei.

–Não, claro que não estou bem. Deve saber porquê, embora, eu prefira esquecer.

Ele deu um meio sorriso que era absurdamente deslumbrante e eu mordi os lábios para evitar de suspirar, o que seria, além de inadequado, bem ridículo.

E minha cota de ridícula já tinha sido preenchida para uma vida inteira. 

–Não precisa se sentir mal por isto, estas coisas acontecem.

Eu queria perguntar se ele recebia muita proposta indecente de garotas bêbadas, mas meu medo era ouvir que sim, afinal, ele era o cara mais gato da universidade. E provavelmente o mais rico, o que não fazia diferença nenhuma pra mim, mas com certeza fazia pra muita gente.

–Não, não acontecem – respondi, envergonhada. – Ou garotas bêbadas vomitam em você toda hora? – era melhor eu não entrar no assunto sexo e afins.

Ele sorriu novamente, desta vez um sorriso inteiro.

Deslumbrante.

Eu tentei me lembrar como se respirava.

–Devo dizer que foi a primeira que vomitou na minha camisa.

–Oh... Se eu estraguei sua camisa, sinto muito. Aliás, duas camisas. Eu posso pagar.

–Não vim te cobrar, Bella.

Eu franzi a testa.

–Como sabe meu nome?

–Você falou.

–Eu? Falei que era pra me chamar de Bella? - Deus, eu não me lembrava disto! Do que mais eu não me lembrava?

–Prefere Isabella?

–Não! Prefiro Bella, mas não é disto que estou falando. Eu absolutamente não me... Eu não me lembro de nada depois de...

–Vomitar em mim.

Eu quase gemi. Ele tinha que ficar lembrando?

–Sim. Depois disto. Espero que não tenha feito nada vergonhoso – murmurei, tentando mesmo me lembrar, mas minha mente era um buraco negro.

–Acho que não.

Eu queria muito que ele contasse exatamente o que tinha acontecido, mas ele não falou mais nada.

O pior era que eu tinha medo de perguntar. 

Respirei fundo. O melhor a fazer era encerrar aquele assunto, encerrar aquela estranha conversa com Edward Cullen.

E esquecer pra sempre as últimas 24 horas.

–Olha, eu sinto muito por ontem. Espero que... Esqueça o que aconteceu...e...enfim... - eu queria que ele entendesse que era pra esquecer exatamente tudo o que tinha acontecido, principalmente a minha proposta ridícula e as confissões vergonhosas que se seguiram. - Eu passei dos limites ontem, eu... estava meio fora de mim... - ele não falava nada e então eu me levantei, juntando minhas coisas. – Preciso voltar para a aula – murmurei, me afastando.

Pronto. Tudo acabado. 

Edward Cullen não precisava mais falar comigo. Podia voltar ao seu mundinho perfeito e esquecer que eu existia.

Porque era exatamente o que eu ia fazer.

Mas antes que eu chegasse à porta, de novo aquela mão se adiantou e abriu pra mim.

–Bella, espera.

Eu parei, levantando o olhar, exasperada.

–Edward, sério. Não somos amigos, não tem que ficar conversando comigo! Eu sou apenas a garota bêbada que vomitou em você e aposto que você, tanto quanto eu, quer esquecer que aquilo aconteceu e...se queria se certificar se estou bem, hoje ainda não estou, mas aposto que vou ficar depois que a ressaca passar. – despejei.

–Eu não vim aqui apenas para saber se está bem.

Eu fiquei olhando para ele, tentando entender. Porque não me vinha nada a cabeça sobre o que um cara como Edward Cullen podia querer comigo.

–A resposta é sim. – ele disse por fim.

–O quê?

–Sobre sua proposta no banheiro. Minha resposta é sim.

continua